Gado não resiste à seca e morre à beira da pista na região de Itiúba
Não se vê um sabiá ou pássaro preto cortando a
caatinga. São os primeiros retirantes da seca ordinária
que atinge boa parte da Bahia. O céu, azul como nunca,
pertence somente ao voo sombrio dos urubus. Mau sinal. O
que é fartura para eles representa a sede, a fome e a
morte de outros animais. Nus, os pastos estão cinzas. Em
alguns povoados próximos a Itiúba, microrregião de
Senhor do Bonfim, no semiárido baiano, as áreas
reservadas ao gado parecem ter pegado fogo. O carro de
reportagem começa a estremecer de repente, na estrada de
barro entre a BA-381 e a pequena cidade de Andorinha. As
chamadas costelas de vacas, dobras que a falta de chuva
deixa no meio da pista, tornam a viagem demorada. Mas, é
em ritmo lento que a seca fica ainda mais triste.
Devagar, é possível ver os primeiros pontos brancos em
forma de ossadas. Uma a uma vai surgindo. São seis, em
uma distância de 15 quilômetros. As carcaças de crânios
são a face mais clichê da estiagem, mas também a mais
melancólica. Os animais vivos estão fracos, magros.
Muitos não aguentam e ficam “arriados” o dia inteiro.
“Tem umas vacas que a gente precisa de cinco homens para
levantar e, mesmo assim, não adianta. Elas tornam a cair
e em pouco tempo acabam morrendo”, diz Domingos Lopes,
74, que enfrenta toda a arrogância do sol para salvar o
que lhe resta.
(Correio da Bahia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário